A origem da povoação de Pereira parece estar ligada às vicissitudes do processo de Reconquista do território aos mouros.
Conta a lenda que "… quando os mouros foram expulsos das fortalezas de Coimbra e Montemor-o-Velho, alguns se entrincheiraram num dos pontos altos da margem sul do Mondego, chefiados por Almindo (ou Alminde), muçulmano terrível que deixou fama de carrasco pelas atrocidades e devastações que fazia na região. Os cristãos viviam, nessa altura, em terror permanente perante as barbaridades do desumano Almindo. E, não podendo suportar tal estado de sítio, por muito mais tempo, organizaram contra ele, graças ao entendimento dos alcaides de Coimbra e Montemor-o-Velho, uma corajosa investida que resultou na morte do chefe e na fuga dos companheiros. Libertos do opressor e senhores do local, instalaram uma atalaia de defesa, que protegeram de audazes homens de armas, sob o comando do capitão Pereiro. A lenda adianta que o capitão Pereiro acompanhou Afonso Henriques na luta contra os mouros e que em reconhecimento dos seus feitos o rei lhe deu o senhorio da atalaia, com as suas terras cultivadas e por cultivar, tomando a povoação o nome de Pereira."
Em 1158 o lugar já era habitado, uma vez que num documento datado desse ano Paio Guterres refere-se à terra no processo sobre a questão havida entre a Sé e o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
Teve foral dado pelo rei D. Dinis em 1282, o que atesta a importância da povoação; as suas excelentes condições fizeram com que fosse local de paragem e estadia dos infantes D. Pedro e D. Henrique, bem como do rei D. Fernando, em 1372.
Em 1476, o rei D. Afonso V doou o senhorio de Pereira (e outras terras) a D. Álvaro, filho de D. Fernando Duque de Bragança, mas em 1496 a Vila passou de novo à posse da Coroa devido à confiscação dos bens do Duque por este ter conspirado contra o rei.
O rei D. João II deixou Pereira e o seu reguengo em testamento ao filho D. Jorge, criando a Casa de Aveiro; assim ficou até 1759, altura em que esta Casa foi extinta devido à conspiração levada a cabo contra o rei D. José I.
Em 1513, Pereira recebeu foral novo dado pelo rei D. Manuel I. No final do século XVI a povoação e região assistem a um surto de desenvolvimento devido à introdução da cultura do milho, que tornou o vale do Mondego no celeiro de todo o litoral centro.
Os séculos XVII e XVIII continuam a marcar épocas de apogeu como pode ser atestado pelo surto de construções civis e religiosas. O Colégio das Ursulinas, fundado em 1748 por D. Catarina Barreto e suas filhas D. Luísa e D. Maria, é o responsável por uma tradição na doçaria que ainda hoje se mantém: as queijadas, as barrigas de freira e os papos de anjo.
Em 1831 havia apenas uma freguesia no concelho de Pereira, que contava 457 fogos e 1350 habitantes; o concelho foi extinto em 1836, tendo-se iniciado um período de estagnação e decadência.
Em 1842 pertencia ao concelho de Santo Varão, até que este foi extinto em 1853, altura em que passou para o concelho de Montemor-o-Velho. Pela Lei 79/91 de 16 de Agosto, foi Pereira elevada à categoria de Vila, a que se poderá juntar o epíteto de "vila-museu" tal é a variedade e importância do seu património histórico, cultural e paisagístico.
Património Cultural
Para além das numerosas festas é de referir o importante papel desempenhado pelas várias coletividades na preservação dos valores culturais da Vila. O Grupo Folclórico é o detentor de uma coleção de arte e etnografia, de valor incalculável.
Património Natural
No extremo da freguesia situa-se a Reserva Natural do Paul de Arzila. Esta é uma zona baixa e húmida com uma área de 535 ha distribuídos por um Núcleo Central com 165 ha e uma Zona de Protecção de 370 ha. É atravessado por três valas: a Vala da Costa, a Oeste, a Vala dos Moinhos, a Leste, e a Vala do Meio.
Património Edificado
A Freguesia de Pereira é muito rica em monumentos, salientando-se a Igreja Matriz de Santo Estevão, o Celeiro dos Duques de Aveiro, a Igreja da Misericórdia (uma das primeiras do País), o antigo Hospital, a capela de S. Francisco, Capela de S. Tiago, Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Capela de Nossa Senhora do Pranto, Casas Senhoriais e Cruzeiros.
• Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso
Evoluiu de um cruzeiro de Santo Cristo. Com um pequeno adro envolvente, tem plano rectangular composto por corpo e capela-mor que encerra um retábulo simples, sem ornamentos, onde se encontram as imagens de Cristo e Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Localizada no Tojal. Passou de cruzeiro a capela em data incerta, pelo que os moradores colocaram a escultura de Nossa Senhora do Bom Sucesso e passou a ser alvo de devoção dos fiéis. A data que se encontra numa lápide (1147) não nos permite saber se será do cruzeiro ou da capela.
Capela com orientação no sentido Nascente-Poente e pequeno adro envolvente a Norte. O frontal da Capela está voltado para Nascente, com porta principal para a rua pública. Na parede Norte, rasga-se uma porta travessa junto à capela-mor. De plano rectangular, com corpo e capela-mor, separada por arco cruzeiro de volta inteira em pedra. Telhado de duas águas, em que as empenas rematam com cruzes apontadas. Campanário no frontal a norte da porta principal. Corpo da capela com uma cintura envolvente de azulejos modernos. Na capela-mor encontra-se um retábulo simples, pintado sem ornamentos, apoiado sobre uma pequena banqueta que serviu de altar (com pedra de ara) e onde se encontram as imagens de Cristo e Nossa Senhora do Bom Sucesso. Ao centro, pequena mesa de altar, cadeiras para oficiante e junto às paredes laterais mesas onde estão colocadas grandes quantidades de fotografias e amuletos (tipo ex-votos) oriundos de promessas aquando da guerra colonial. A iluminação natural é obtida por duas janelas com gradeamento de ferro a ladear a porta principal e a iluminação artificial é obtida por dois candeeiros nos tectos do corpo e capela-mor.
Inicialmente, encontrava-se neste local um oratório onde só cabia a imagem do Santo Cristo, com a frente sempre aberta, para veneração dos fiéis. Era todo de pedra, em forma de nicho, com degraus. Como o oratório se encontrava em ruína, a população mandou construir uma pequena capela fechada para albergar a dita imagem. Foi assim construído um pequeno edifício, quadrado, com alpendre exterior. Posteriormente, colocaram também nesta capela a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, passando a ser esta a sua invocação. Actualmente, nesta capela, encomendam-se os mortos e daqui seguem para o cemitério de S. Francisco. Por vezes, reza-se missa e no período quaresmal é ponto obrigatório para "amentar as almas", enquanto na festividade dos Passos, Nossa Senhora da Soledade aguarda, nesta capela, o momento de sair em acto processional para o local de encontro com o filho, no Largo da Cheira, local do "sermão do Encontro".
• Capela de Nossa Senhora do Pranto
Localizada ao cimo da vila, no Bairro do Pranto. Edifício constituído por corpo, capela-mor e sacristia, com alpendre de colunas que antecede a porta principal, com abóbada de tijolo curva. A capela-mor encerra um retábulo de colunas torcidas e com as imagens de Nossa Senhora do Pranto, S. Sebastião e uma outra.
Edifício orientado no sentido Nascente-Poente, com frontaria principal a Poente. Possui alpendre de colunas que antecede a porta principal, com abóbada de tijolo, curva. Na parte Sul, rasga-se uma porta travessa que dá acesso à rua pública. Na parede Nascente do lado exterior, observam-se restos de duas cruzes de azulejos azuis, setecentistas, provavelmente pertencentes a um conjunto da Via Sacra. Sobre o alpendre frontal, rasga-se uma janela e no fecho situa-se o campanário com a respectiva sineta. A sacristia localiza-se a Norte da capela-mor. Construção forte em alvenaria, apoiada em contrafortes e muro de suporte a Norte e Nascente. Iluminação natural do corpo e capela-mor através de várias janelas e postigos. Telhado de duas águas com telha de cano, pináculos nas extremidades e nas empenas das paredes com cruzes apontadas. Plano rectangular de uma só nave, arco cruzeiro, corpo, capela-mor e coro. Na capela-mor encontra-se um retábulo maneirista, com a Virgem entronizada. Nossa Senhora do Pranto é uma escultura de calcário, do século XV, atribuída ao Mestre João Afonso e veio da capela arruinada. No corpo, junto ao arco cruzeiro, do lado Norte, o nicho com a escultura maneirista processional da Senhora do Pranto. No coro, encontra-se o púlpito de pedra, apoiado em duas consolas.
A primitiva capela localizava-se a Norte da actual e encontrava-se em ruína no século XVI devido às enchentes do Rio Mondego. A construção actual deve-se à doação testamentária de 1674 do licenciado Manuel Soares de Oliveira, natural de Pereira. Este exerceu os cargos de Assessor e Auditor Geral do Governador e Capitão Geral em Manila (Filipinas). No testamento mandava que se comprassem 3 aguilhadas de terra na costa do monte fronteiro à velha Ermida de Nossa Senhora do Pranto que se encontrava arruinada e que se construísse nesse terreno, que ficava ao pé da estrada, uma capela para onde fosse transferida a Imagem de Nossa Senhora do Pranto. Mandava ainda que se instituísse nesta capela uma Colegiada com seis capelães e que se dissesse missa todos os sábados. Esta colegiada existiu até 1849, data em que morreu o seu último capelão. A dotação era grande e, por isso, a sua fábrica era rica: paramentos de veludo, castiçais e lâmpadas de prata. Estas estariam sempre acesas, para o que havia 400$000 reis anuais, estabelecendo-se ainda uma colegiada de seis capelães com vários encargos espirituais. Toda esta opulência foi desaparecendo com o passar dos tempos.
• Capela de Santa Luzia
Localizada nos Casais Velhos. Constituída por corpo, capela-mor, sacristia e arrumos.
Construída em 1967 a expensas do povo.
Capela orientada no sentido Nascente/Poente. A porta principal está localizada a Poente e comunica com a estrada que liga Pereira a Condeixa. No lado Sul, na parte exterior, um alpendre dá acesso à porta lateral. Na frontaria, rasga-se a porta de acesso antecedida por 4 degraus, ladeada por dois postigos, encimando o frontão por uma cruz e sob a empena Norte o campanário com a sineta oriunda da sede da Junta de Freguesia de Pereira. No interior, tecto de cimento, paredes revestidas de massa de cimento e cal, caiadas de branco.
Como não havia local de culto nestes lugares, um grupo de moradores tomou a iniciativa e deu-se início à sua construção. O terreno foi doado por um proprietário local e a capela foi inaugurada na noite de Natal de 1967. Este acontecimento foi confirmado por escritura pública de 3 de Julho de 1981, após autorização do Ordinário da Diocese de Coimbra, em que se outorgou a propriedade à Igreja Paroquial de Pereira. Apesar disso, tem uma administração local constituída por dois moradores dos respectivos lugares eleitos pela população.
• Capela de São Tiago
Situada nas Dadas, sitio deserto e de abundantes matos, local isolado, propicio e escolhido para a segregação de pestíferos e seu sequente enterramento.
Após cessar o período de contagio da terrível epidemia (Séc. XIV), familiares dos afectados memorizaram os seus entes queridos, edificando uma pequena Capela com a invocação a São Tiago. O interior é de um só corpo, e sobre um pequeno altar apoiam-se esculturas de São Tiago, da Virgem com o menino, e de São Bento.
A área do antigo cemitério, rectangular, é ladeada por duas filas de oliveiras. Ao centro, encontra-se um cruzeiro, com secção quadrangular, que serve de apoio á enorme cruz latina. Nos seus braços pode ver-se motivos alusivos a Cristo e aos martírios da cruz (coroa de espinhos, cravos e as insígnias J.N.R.J).
• Casa do Despacho e Hospital
Situa-se na rua da Misericórdia, ala sul, e é propriedade dessa instituição. De momento serve de habitação, podendo ser apreciado o exterior.
Construção datada de 1723-1724, possui quatro janelas em avental e de cornija, uma porta de pilastras escudada no remate e duas portas de cantaria do tipo das janelas.
Entre estas duas portas, no século XIX, rasgou-se uma terceira que dá acesso ao primeiro andar, dependência acrescentada á primitiva, para funcionar como celeiro.
Esta casa é, certamente a legitima sucessora de uma antiga albergaria destinada a apoiar peregrinos e pobres.
Aqui funcionou ainda a Botica, que de parceria com a das Ursulinas e uma particular, assegurava a assistência, na doença, ás gentes de Pereira e vizinhança. Uma sala de tratamentos e a enfermaria de quatro camas , completavam o equipamento.
O Hospital (podendo não ser no mesmo local), é referenciado a partir de 1631 “… faleceo no Hospital, António, moço pobre… “
• Celeiro dos Duques de Aveiro
Arquitectura utilitária de óptima traça arquitectónica não só quanto à funcionalidade do interior e perfeitamente adequada à função mas também quanto aos materiais empregues. O despojamento decorativo do edifício decorre naturalmente da função que ocupava. Edifício de dois pisos. Sobre a porta que é servida por uma escada alpendrada, encontra-se o escudo dos Lencastres.
Foi construído no século XVI pelos Duques de Aveiro, tendo como função recolher os cereais, principalmente o milho, proveniente das terras do ducado. Há notícia do brasão dos Lencastre ter sido danificado no século XVIII.
Planta rectangular simples, regular, disposta longitudinalmente, massa simples. Cobertura homogénea em telhado de quatro águas. Fachada principal orientada a 0este composta por pano único limitado pela escada de acesso ao segundo piso e pelo cunhal pétreo; dois pisos definidos pela linha da fenestração, com uma janela gradeada e uma porta de volta perfeita no primeiro registo e uma fresta de emolduração em pedra, no segundo. A marcar a transição entre os dois, insere-se a escada de dois lanços, fruto de restauro recente o primeiro, sendo o segundo coberto por um alpendre assente em pilares, que cobre duas portas de verga recta, apresentando a principal o brasão dos Lencastre, no lintel. Remata em cornija simples que serve de suporte ao telhado de beiral saliente. O alçado Norte tem pano único, limitado pelos cunhais e dois pisos rasgando-se no primeiro duas portas de verga recta e no outro uma janela quadrada com portadas de madeira, apresentando idêntico coroamento ao descrito atrás. O alçado Este com organização idêntica, varia no número de aberturas no primeiro registo, duas portas de verga recta alternando com duas janelas gradeadas e no segundo registo uma janela rectangular e duas frestas. A Sul o celeiro encosta-se a construção mais baixa, libertando o segundo registo do alçado, no qual se rasga uma janela quadrada. O interior tem espaço único de duas naves separadas por arcada de pleno centro, com cobertura em abóbada de aresta, iluminadas pelas janelas e portas que se rasgam na estrutura murária.
• Igreja da Misericórdia
Igreja de planta longitudinal, de uma só nave, com coro-alto assente em colunas. Tem capela-mor e na nave três retábulos e tribuna dos mesários suportada por colunas jónicas.
A Misericórdia foi instituída em 1574. A Igreja foi construída a partir da Capela de Nossa Senhora da Piedade. Sofreu obras e acrescentos ao longo dos séculos.
A fachada, tendo à esquerda a torre e à direita a nova casa do despacho, mostra um portal estilisticamente análogo ao do Colégio de S. Pedro, no pátio da Universidade de Coimbra, exemplo do barroco - joanino, raro na região centro. Enquadram o seu vão rectangular dois pares de colunas coríntias, o friso decorado de enrolamentos, sobre os começos de frontão interrompido assentam as esculturas rudes da Caridade e da Esperança. A meio, sobre o vão, uma composição de pilastras decoradas encerra um baixo-relevo, da Senhora da Misericórdia. No triângulo da empena, um escudo nacional entre decoração barroca, mais tardia. A torre apresenta porta ornamentada e remate quadrado, bolboso e de fogaréus. A porta do despacho, de meados do século XVIII, é ladeada por duas colunas jónicas, englobando na composição a janela - sacada e varandim de ferro. A igreja é de uma só nave, possui pavimento de mosaicos, tecto de arestas de madeira no corpo (sem pinturas) e capela - mor em estuque. O acesso à igreja faz-se por porta travessa a norte do corpo e pela porta da fachada, onde existe tapavento e confessionários de madeira. Sobre o tapavento, está o coro-alto (com orgão inoperacional) assente em duas colunas centrais e duas pilastras laterais decoradas, tendo as centrais pias de água benta circulares. No corpo da igreja, ladeando o arco cruzeiro, estão altares colaterais com retábulos de talha nacional, enquadrados por colunas torcidas, da fase joanina e ornamentadas com motivos barrocos: vegetalistas, figurativos e fauníticos. As tribunas desses altares são ocupadas por esculturas de madeira de S. José e Santo António. A capela - mor situa-se num plano superior ao do corpo, através de degraus de pedra. O retábulo maneirista é de largas composições salomónicas com grinaldas de flores e exuberantes construções do barroco - joanino onde predominam motivos vegetalistas, figurativos e fauníticos. Tem camarim central ocupado pela escultura de Nossa Senhora da Piedade. No remate está o escudo nacional apresentado por anjos tarifários. As esculturas maneiristas de Santa Ana e S. João Baptista enriquecem o retábulo principal. Todos os retábulos, de colunas torcidas, da fase joanina (o altar-mor data de 1731 e os colaterais de 1738), foram executados por Jerónimo Ferreira de Araújo, mestre entalhador. Possui a tribuna usual dos mesários, típica das Misericórdias, colocada à direita e de colunas lisas jónicas. A capela - mor e o corpo da igreja revestem-se de painéis de azulejos, enquadrados em composições concheadas com altas e decoradas cabeceiras recortadas, azuis na capela - mor e polícromos no corpo. São puro fabrico coimbrão, de oficina artesanal, obra executada entre 1770 e 1785. Os da capela - mor representam temas Marianos e os do corpo evocam cenas da vida de Jesus Cristo, sendo à direita cenas da infância e à esquerda da Paixão alternando com paisagens. Sob a Casa do Despacho, do lado direito da Igreja, fica a Casa do Lavabo, local provável da antiga capela, singelamente decorada e a sacristia onde está um arcaz de almofadas, obra do mestre carpinteiro de Santo Varão, Manuel João Seco, executado antes de 1744. O tecto é de madeira pintada de enrolamentos e grinaldas a envolver o escudo nacional executado por Domingos Correia e Manuel Pereira, em 1748.
A Misericórdia foi instituída numa antiga capela, dedicada à Senhora da Piedade, que continua a ser a padroeira actual. Esta capela era administrada por uma Confraria, com a mesma designação que possuía, para além da capela, Casa para Sessões, Torre de Despacho e Albergaria para acolher passageiros e peregrinos. Em 1498, o Juiz desta Confraria solicitou ao monarca, D. Manuel I, "Privilégio de Misericórdia", uma mercê concedida, com Provisão e Compromisso, concretizados no ano de 1574, transformando-se em Irmandade de Misericórdia e constituída por 80 Irmãos. Fizeram-se obras de arranjo e complemento, confirmando-o uma pedra - cartorio anno 1724. Já antes de 1727 se mandara elaborar um projecto mas só com a entrada, nesse ano, para provedor, do capitão-mor Felix de Carvalho Pimentel, que serviu até 1753, se pensou seriamente na reforma. A 2 de Janeiro de 1729 assentaram-se as paredes (foi pedreiro António Gonçalves) Fizeram os madeiramentos dos telhados José Migueis e Francisco Neto. A 27 de Maio de 1730, estavam acabadas as paredes, madeiramentos e telhados. A frontaria só teve o remate definitivo nos anos de 1748-49, pelo pedreiro de Ançã, Matias de Andrade. A torre elevou-se de 1753 até 1757, obtendo os últimos arranjos em 1758, como indica a data sob o mostrador. A Misericórdia, ao longo dos tempos, tem-se regido por "Compromissos": 17/07/1748; 25/09/1861; 20/02/1870 e Estatutos de 22 de Agosto de 1913.
• Igreja Matriz de Santo Estêvão
Planta longitudinal de três naves e capela-mor. Cobertura em telhado. Frontaria com porta principal em arco semi-circular com cimalha direita e por cima a janela do coro, dois óculos quadrangulares e escudo nacional. À direita encosta-se uma torre sineira, obrada em três lanços e composta por quatro ventanas. Apenas possui sinos nas ventanas S. e P., sendo um deles datado de 1777. Ocupa o sítio da primitiva, cujo acesso era pelo coro (actualmente faz-se pelo exterior). Na fachada S. a porta está enquadrada por duas colunas com frontão interrompido pela escultura do padroeiro, Santo Estevão. No interior, as naves são divididas por cinco arcadas semicirculares assentes em colunas dóricas, tecto de madeira na nave e abóbada de pedra em caixotões na capela-mor, onde existe também uma inscrição parietal, sob o escudo dos Frois: "O DOVTOR. FR(ANCIS)CO. ROIZ. FROES / CAPELÃO DEL REI PADROEIRO / DESTA IGREIA MANDOV FAZER / ESTA CAPELA. S. SVA. CVSTA / NO ANNO DO SENHOR / 15(95)". Um púlpito encosta-se à segunda coluna do Evangelho, é cilíndrico, sobre balaústre, confirma a data: "ERA 1595". Uma capela em cada colateral, na esquerda a do Sacramento com portal avançado obliquamente sobre a nave, de planta quadrada com porta de ligação à sacristia; a da direita, dos Couceiros, com arco enquadrado por dois pares de colunas com cobertura de abóbada de pedra de caixotões, às quais se junta um arco na parede S., junto à entrada lateral.
Nada se sabe sobre a sua fundação, no entanto, quando foi demolido o cunhal do primeiro arco da nave do N., junto à capela-mor, dizem que apareceu uma pedra redonda, como as dos moinhos. Nela gravava-se, em relevo, dum lado um lavrador curvado sobre o arado que era puxado por uma junta de bois e tinha, perto, um saco cheio atado pela boca que um rapaz tentava desatar. No reverso, estavam um carro, umas grades, um rodeiro, uma carga, solas, etc, tendo em volta a seguinte legenda: "Os lavradores, os caseiros e mais povo, as nossas custas". Esta pedra desapareceu em data incerta. A Igreja assenta sobre uma mais antiga, estando agora a um nível superior, devido a alteamentos sucessivos do pavimento (uma vez que era constantemente inundado pelas enchentes do Mondego). Desde o século XVI (1595) tem sido alvo de obras e restauros custeados pelo Erário Régio, Confrarias do Santíssimo e Almas, Bulas de Cruzada, legados de Santa Maria e esmolas do povo. O pároco era de apresentação do padroado real, tendo o rendimento de 300$000 reis. Porém, mais tarde e até 1755, a apresentação do pároco pertenceu aos Duques de Aveiro e tinha, nesse ano, um rendimento superior a um conto de reis. O Cura da Igreja recebia o rendimento do pé do Altar e Passal, quantia insuficiente para subsistir e custear vinho, hóstias, cera, azeite, etc. Daí, o edifício estar sempre em ruína, a ponto de, em 1754, o Juiz da Igreja, António de Lemos, solicitar subsídio urgente ao Bispo de Coimbra, procurando evitar a queda da abóbada. Em 1767, os dízimos rendiam 320$000 (pagos em quatro vezes), arrematados a 14 de Maio e contrato firmado por escritura entre o Prior, Pedro Mascarenhas de Mancellos e Francisco Jozé Cotovia, de Pereira. A porta lateral (a S.) tem um pórtico concebido pelo mestre canteiro de Pereira, João Pereira Leytão, entre os anos de 1773 e 1774, custeado pelo Provedor da Comarca, o Dr. Manuel da Silva Carvalho, por 200$000 reis. Em 1787, João Pires da Cruz Mayo, o moço, e Jozé Pires Mayo, mestres pedreiros de Pereira, ajustaram consertos nos telhados da capela-mor, sacristia e capela das Almas, por 40$000 reis, a pagar pelo Legado de Santa Maria. Existem notícias de mais pequenos restauros em 1805 e 1853. Os pavimentos, inicialmente de madeira e pedras sepulcrais, passaram, a partir de 1840 (aquando da proibição de enterramentos), a lages de pedra, calçada e asfalto, até um misto de mosaico e lajedo. Em 1867, a Igreja sofreu grandes danos devidos às fortes cheias do Mondego. A Junta de Paróquia pediu apoio ao Governo, seguindo-se o início das obras custeadas pelo Bispo de Coimbra, Sua Magestade e pelo povo de Pereira. A actual torre advém de uma construção iniciada em 1876 e concluída em 1897. O projecto e supervisão foi da responsabilidade do engenheiro Miguel Silveira Azevedo e os custos foram suportados pela Junta de Paróquia, legado de Santa Maria e confrarias das Almas e Santíssimo Sacramento. Os sinos foram colocados na torre em Agosto de 1895, as obras foram concluídas em 1897. A 12 de Março de 1960, uma faísca demoliu um cunhal, mais tarde reparado pelos Monumentos Nacionais. O coro foi objecto de reformas e reparações no século XVIII. Desde os anos 50 do nosso século até à actualidade, este edifício sofreu intervenções da Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais: 1952 - reparação da cobertura da torre sineira, da sacristia e reconstrução da parede esquerda da nave; 1955 - reparação dos tectos; 1956 - reparação das paredes e pavimentos da sacristia; 1957 - reparação do muro do adro; 1959 - reparação dos altares e retábulos; 1960 - reparação geral da torre; 1963 - instalação eléctrica; 1986/1987 - obras de beneficiação; 1998 - reparação das coberturas da sacristia e capela-mor, drenagens exteriores.